Fontes renováveis compõem mais de 90% da energia gerada no começo deste ano

By Mirella Scattolin In Bolt Labs

14

nov
2023

Fontes renováveis, em 2022, produziram mais de 60 mil megawatts médios de energia

De acordo com dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), nos primeiros meses de 2023 (janeiro a abril), as demandas de carga do Sistema Interligado Nacional (SIN) foram atendidas prioritariamente por fontes renováveis.

A geração hidráulica, eólica e solar foi responsável por 91,4%, na média, da energia elétrica distribuída pelo SIN à população brasileira. O número foi maior que o resultado médio comparado com o mesmo período do ano passado, que atingiu 87,8%.

Estes números foram um reflexo do cenário hídrico climático mais favorável, que contribuiu para a recuperação dos reservatórios de água e da expansão das usinas movidas pelo vento e pelo sol.

Em termos de cenários climáticos, vale destacar que os anos de 2020, 2021 e 2022 foram anos sob influência do fenômeno La Niña, cujos efeitos, em geral, são aumento das precipitações no Norte e Nordeste do Brasil e redução das precipitações no Sul do país, como explica o analista de preços do grupo Bolt Energy, Fábio Ferreira.

“O que observamos foi um ano de 2020 com precipitações razoáveis ao longo do ano e que terminou com a frustração do período úmido (de outubro de 2020 a abril de 2021), logo não foi possível recuperar o nível dos reservatórios para o ano de 2021 que, foi o mais seco do histórico de 91 anos”, comenta.

Por ter sido o ano mais seco do histórico, os níveis dos reservatórios ficaram em níveis baixos ao longo de quase todo o ano de 2021, porém o período úmido daquele ano, a partir de outubro, foi muito positivo, o que deu início a recuperação dos níveis dos reservatórios. 

“Iniciamos o ano de 2022 com cautela, porque, apesar das boas precipitações ocorridas no período úmido iniciado em outubro de 2021, ainda estávamos nos recuperando dos efeitos da crise hídrica daquele ano. Devido a esta cautela, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) manteve a geração termelétrica por segurança energética até abril de 2022, assim como manteve ativas diversas restrições operativas que tinham a função de ajudar a recuperar os níveis dos reservatórios das principais usinas hidrelétricas”, explica o executivo. 

Em paralelo a essas ações do ONS, a contínua expansão da capacidade instalada das fontes intermitentes eólica e solar contribuiu para o atendimento de parcela expressiva da demanda, o que também colaborou com a recuperação dos níveis dos reservatórios. 

Levando em consideração este cenário, Fábio Ferreira explicou sobre esse segmento do mercado de energia. Confira:

Por que o Brasil está crescendo o número de consumo de energias renováveis? 

Há anos que o Brasil é destaque na expansão de energias renováveis, em especial, energia eólica. Só que a partir de 2022, com a publicação da lei 14.300, que instituiu o marco legal da micro e mini geração distribuída (MMGD), aumentou o interesse dos consumidores em fazer a instalação de sistemas de MMGD, tanto que ao final de 2022, a capacidade instalada total desses sistemas de MMGD foi de 18 GW. Com isso, quanto mais aumenta a capacidade instalada das fontes eólica e solar, mais aumenta o consumo da energia gerada por essas fontes. 

Outra consequência positiva desse protagonismo das fontes eólica e fotovoltaica na expansão da matriz elétrica brasileira é que a energia gerada por essas fontes colabora com a manutenção dos níveis dos reservatórios das hidrelétricas. Estas têm a função de gerar energia nos horários em que há a escassez de recursos das fontes eólica e solar (vento e irradiação solar). 

Logo, a expansão das fontes eólica e solar em conjunto com os bons níveis dos reservatórios aumenta o consumo de energia gerada por essas fontes, que são renováveis, e reduzem a participação e importância das fontes não-renováveis (termelétricas a gás, óleo, carvão). 

A geração solar centralizada teve o maior aumento de geração em 2022, de 64,3% na comparação com o ano anterior. Por que isso aconteceu? Quais foram as condições?

A expansão da geração solar está associada ao aumento da capacidade instalada. Por ser uma fonte intermitente, isto é, sua geração só pode ser mantida nos horários com incidência de irradiação solar, é necessário injetar a energia gerada no mesmo instante, pois não há como armazená-la.  

Os fenômenos La Niña e El Niño estão relacionados a variação de temperatura. Então, em anos de La Niña espera-se uma redução das temperaturas, e em anos de El Niño espera-se um aumento das temperaturas.

A temperatura é um dos fatores que pode impactar a eficiência dos painéis fotovoltaicos, quanto maior a temperatura do paínel, menor sua eficiência. O ano de 2022 foi um ano de La Niña, logo de temperaturas abaixo da média climatológica, o que é mais favorável a geração fotovoltaica.  

De acordo com o ONS, até abril deste ano, mais de 91% da energia consumida no Brasil veio de fontes renováveis, superando os 87% registrados no mesmo período de 2022. Por qual motivo houve esse crescimento neste ano?

São dois principais motivos: a expansão das fontes intermitentes e a boa condição dos reservatórios. Para que a situação se mantenha é importante que os reservatórios continuem em torno dos níveis atuais, afinal, apesar da expansão das demais fontes, o Brasil continua predominantemente dependente da geração hidrelétrica.

Logo, se os níveis dos reservatórios começarem a ser reduzidos, e as precipitações não forem suficientes para recuperá-los, voltaremos a acionar as usinas termelétricas movidas a combustíveis fósseis.  

A tendência é que até o final deste ano os números cresçam? É possível atingir ou superar 100% do uso de energia limpa como fonte geradora?

Ainda há projetos de fontes renováveis entrando em operação este ano, logo é possível que continuemos a verificar o aumento da geração a partir dessas fontes. No entanto, é pouco provável que atinjamos 100% de uso de energia limpa, porque algumas usinas termelétricas precisam operar compulsoriamente por um determinado número de horas, dias ou meses.  

Para o ano que vem, o que podemos esperar deste cenário energético renovável? Há alguma manifestação climática que possa interferir nestes números e/ou consumo?

O ano de 2023 é marcado pelo fim da La Niña e pelo início do El Niño. Apesar do início do El Niño, os seus efeitos serão mais perceptíveis a partir de 2024, logo há uma expectativa de que o próximo ano tenha temperaturas mais elevadas com chuvas abundantes no Sul do país, e escassas no Nordeste e Norte, isto deve impactar tanto a geração quanto o consumo. 

Pelo lado da geração, os cenários de chuva podem beneficiar a usina de Itaipu localizada no sul do país no estado do Paraná. No entanto, essas chuvas podem não contribuir para a manutenção dos níveis dos reservatórios, já que os maiores reservatórios se encontram na região Sudeste/Centro-Oeste, que não tem um padrão de precipitação bem definido em eventos de El Niño.

Além disso, há usinas importantes localizadas no Nordeste e Norte do Brasil que serão negativamente impactadas tanto em geração quanto em nível de armazenamento devido à escassez de chuvas que pode ocorrer. Já pelo lado da demanda, a elevação das temperaturas deve influenciar o aumento do consumo.