CCEE realiza 1º Fórum de Análise Setorial e abre debate sobre o futuro do setor elétrico brasileiro

By Marilia Criscuolo In Bolt Labs

04

set
2025

Evento inédito reuniu autoridades, especialistas e executivos para discutir medidas provisórias, abertura de mercado, curtailment, leilões, inovação e o papel do armazenamento na segurança da matriz energética

A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) promoveu nesta terça-feira (2) a primeira edição do Fórum de Análise Setorial, um encontro que reuniu parlamentares, representantes do governo, executivos de empresas e lideranças de associações para debater os principais desafios e oportunidades que irão moldar o setor elétrico brasileiro nos próximos anos.

O presidente do Conselho de Administração da CCEE, Alexandre Ramos, abriu o evento destacando a importância da iniciativa. “Esse encontro nasce hoje com o intuito de promovermos um espaço de amplo e livre debate sobre os principais temas de nosso setor, bem como levantarmos diretrizes para avançarmos em prol do fortalecimento de nossa economia, do desenvolvimento de nosso país e de um mercado de energia elétrica cada vez mais justo, inclusivo e sustentável”, afirmou.

Medidas Provisórias no centro da discussão

Logo no início do fórum, o foco esteve nas Medidas Provisórias (MPs) 1.300, 1.304 e 1.307, que impactam diretamente a organização do setor elétrico. O painel reuniu representantes do Congresso e especialistas para analisar os efeitos políticos, técnicos e regulatórios das propostas.

O deputado federal Fernando Coelho Filho, relator da MP 1.300/25, participou remotamente e ressaltou o papel das medidas no equilíbrio regulatório. “Não será de um dia para o outro, mas as baterias vão contribuir para mitigar riscos e trazer mais previsibilidade ao sistema”, afirmou ao comentar a MP 1.307.

Já Arnaldo Jardim reforçou a necessidade de um pacto político. “Teremos uma atuação conjunta entre o Fernando Coelho Filho e o Senador Eduardo Braga”, declarou.

O debate contou ainda com a participação de lideranças como José Guilherme Antloga (ABRAGEL), Rui Altieri (APINE) e Solange Ribeiro (Neoenergia). Para ela, “a abertura de mercado é essencial para a distribuição, não apenas para a comercialização”.

Abertura de mercado: competitividade e transparência

O terceiro painel trouxe à tona os caminhos para a abertura do mercado livre. Gerusa Côrtes, vice-presidente do Conselho de Administração da CCEE, destacou os esforços da entidade. “A CCEE está muito empenhada na discussão da abertura de mercado. Investimos em tecnologia e na simplificação de processos para tornar a experiência dos agentes a mais segura possível”, afirmou.

Rodrigo Ferreira, presidente da Abraceel, ressaltou a importância da transparência para os consumidores. “Essa é a essência do open energy: permitir que o consumidor tenha acesso, de forma organizada, aos seus dados”, disse.

Para Gustavo Ayala, CEO da Bolt, o mercado livre representa inovação. “Por que o mercado livre é bom? Porque traz novas tecnologias, que são deflacionárias e tornam o custo da energia muito mais acessível”, explicou.

Leilões, armazenamento e segurança da matriz

O quarto painel abordou as estratégias para garantir segurança energética e equilíbrio da matriz elétrica.

Karin Luchesi, CEO da Elera Renováveis, destacou o papel das baterias. “As baterias vêm atender nosso problema de falta de potência, sem necessidade de oferta nova”, afirmou.

Marisete Pereira, presidente da Abrage, defendeu as hidrelétricas como elemento de resposta imediata às demandas. “Elas são uma fonte que, assim que acionada, entrega a potência que o sistema precisa”, disse.

Na visão de Alessandra Torres, presidente da Abrapch, as fontes renováveis são complementares. “Hidrelétrica, eólica e solar não competem entre si, elas são complementares”, explicou.

Curtailment: entrave para investimentos

Um dos pontos mais sensíveis do encontro foi o curtailment – corte de geração que ocorre quando a produção de energia supera a demanda ou a capacidade de escoamento.

O diretor do ONS, Christiano Vieira, explicou a postura da operação. “O corte é o último recurso a ser tomado pelo operador. Procuramos fazer a otimização de forma a reduzir o custo e cortar menos energia possível. É uma operação cirúrgica”, afirmou.

Elbia Gannoum, presidente da Abeeólica, foi enfática sobre os impactos econômicos. “Temos que resolver imediatamente a questão econômica que virou financeira. Qualquer variável técnica não resolverá em curto prazo, pois elas funcionam no longo prazo. Precisamos de uma solução de curto, encarar o problema de verdade”, alertou.

Na mesma linha, Rodrigo Sauaia, presidente da Absolar, destacou as ações em curso. “Estamos atuando na esfera judicial, nas ações administrativas e no âmbito legislativo. Temos que pensar numa segurança jurídica”, reforçou.

O diretor da Aneel, Fernando Mosna, defendeu ajustes regulatórios. “A Aneel pode revisitar a regra de corte de geração por ato próprio. A regra nasceu superada pelo tempo e precisamos dar uma solução. Temos que voltar a dar o sentido de previsibilidade ao investidor”, afirmou.

Inovação e data centers: energia para a era digital

Além dos debates regulatórios, o fórum abriu espaço para a inovação. Manlio Conviello, presidente da Energy Dome, apresentou alternativas de armazenamento com CO₂ comprimido e destacou a necessidade de o Brasil investir em novas tecnologias.

Luciano Fialho, vice-presidente da Scala Data Centers, trouxe o tema da infraestrutura digital. Ele lembrou que até 2020 a América Latina processava menos de 100 MW de capacidade e que o Brasil precisa avançar para competir globalmente.

Encerramento: setor em transformação

O painel de encerramento reuniu consultores e executivos para sintetizar os principais aprendizados. João Carlos, CEO da Thymos, resumiu o espírito do encontro: “O futuro será descentralizado, e temos a chance de ter algo bom para todos”.

Para Afonso Henriques, a transformação será puxada pelo consumidor. “Quando se fala em descentralização, se fala do empoderamento do consumidor”, afirmou.

Donato Filho, CEO da Volt, concluiu destacando a urgência da mudança. “Existe uma transformação que já está ocorrendo no presente e que estamos usando, ainda que de forma tímida, para construir um futuro mais seguro para o mercado”, disse.

Conclusão

O 1º Fórum CCEE – Análise Setorial reforçou que o setor elétrico brasileiro passa por um momento decisivo, em que descentralização, abertura de mercado, armazenamento e inovação tecnológica precisam avançar lado a lado.

Ao mesmo tempo, temas como curtailment e previsibilidade regulatória exigem soluções imediatas para garantir segurança e atratividade de investimentos.

Cenário Energia – 03/09/2025